Sentado na cadeira elétrica ele percebe que irá morrer em alguns minutos. Sente
um arrepio pelo desconhecido, mas não se arrepende de tudo que fez. O
instrumento coercitivo chamado Deus não pode o deter, as leis não puderam o
parar. Ele escolheu o caminho do crime porque de certa maneira foi essa a via
que poderia atingir mais rápido a sociedade apática na qual vivemos todos nós.
Àquele que rouba o primeiro milhão sente o mesmo prazer daquele que mata
algumas dezenas de pessoas, o mesmo que sente um soldado em guerra, que também
é o mesmo que sente um advogado quando defende um estuprador, que vem a ser o
mesmo tipo de atitude patológica que um político sente em desviar verbas da
saúde, que vem a ser o mesmo que um padre pedófilo sente ao tocar uma criança “inocente”,
que é o mesmo que sente um pai quando agride um filho, enfim, comportamentos sádicos
reproduzidos e perpetuados de geração em geração.
Existe um monstro dentro de nós. Ele assume as mais variadas formas e
estipula como serão executados nossos planos de sobrevivência. Aquele homem
servil imaginado por alguns filósofos é nada mais do que um subalterno ou
escravo de um sistema alienante. Houve um tempo em que dividíamos a civilização
em Senhores e escravos, hoje, evoluímos, dividimo-la em empregador e
empregados, ao primeiro concedemos todos os direitos e poderes, ao segundo um
salário ao invés de chibatadas. Eis a modernidade e a tecnologia que engana ao enfeitar o mundo sombrio que nos cerca.
Quando chorávamos ainda pequenos e nossos pais nos entupiam de comida,
quando éramos sinceros e aprendíamos que para sobreviver deveríamos aprender
justamente ao contrário, quando recitávamos poesias na escola para nossas “namoradinhas”
e elas debochavam do nosso amor, quando então descobrimos as máscaras de nossos
amigos, da sociedade em geral e que para postergar nossa existência será necessário
que aprendamos a utilizá-las e adequá-las tanto em formato como no grau de
manipulação, quando isso ocorre, passamos a viver no mundo criado por nós
mesmos e temos como regra a competição, por conseqüência, aniquilação.
Sejamos nós alienados ou neuróticos, qual seja vossa visão, o futuro nos
é inseguro. No começo fomos uma partícula no universo, evoluímos para um grupo
delas. A complexidade que o avanço causa pode ser também o ponto de
desorientação psíquica no qual a maioria das civilizações está submersa,
conforme demonstram suas culturas e crenças atuais.
Nosso cérebro é um pequeno universo, cada célula é uma galáxia, cada
sinapse é uma explosão de criação que se for mal convertida pode vir-a-ser o
movimento oposto, ou seja, a destruição. Nascemos e morremos assim como
estrelas surgem no céu. Nossa mente é a resposta cognitiva para anseios
ancestrais. No futuro novos anseios virão. Eis aqui outro problema: o que
poderá modificar nossas condutas: 1. a não existência de Deus ou 2. a não
existência da raça humana?
Colonizadores e colonizados. Eu e você. Que um dia por ventura tenhamos
andado lado-a-lado. Agora colocados em papéis iguais, mas com resquícios da
antiga personalidade, nosso problema ainda será a tendência em manipular e
estabelecer regras de convívio. O jogo inicia. No decorrer da partida notamos
que nossos times são extensões de nossos pensamentos primitivos de dominação.
Se olhares no espelho da sua casa agora, tendenciosamente, perceberás
um monstro refletido pela luz do sol, tudo isso, explicará o erro genético ou a
experiência social que resultou na raça humana.
Então diante do desconhecido e diante de si mesmo irás te sentir como um
saco de lixo, tal qual um dia as mesmas palavras já haviam sido ditas. Na miséria oriunda
do caos que criamos restarão apenas ratos e baratas. Nada mais!