segunda-feira, 4 de março de 2013

Psicanálise: da arte poética ao narcisismo secundário


Naquela tarde rodopiei sete vezes à procura da razão, mas só encontrei fantasia. Eu agora me chamaria Caim e não mais Abel. Seria de outra nacionalidade, falaria o idioma de minha avó alemã. Cortaria o cabelo curto; rasparia os pelos do corpo (inclusive aqueles da região libidinal); usaria blache para delinear o rosto; entre outras coisas que imaginei sentado a beira da lagoa dos patos.
Eu seria um grande estilista, e não, um pequeno filósofo. Não falaria mais sobre política e sim sobre bundas. Sim, a bunda como um fenômeno cultural amplo, se me compreendem! O que seria das mulheres se não fossem essas benditas bundas?
Levaria Thor (o pitbull skinhead) para defecar na areia da praia, não sentiria remorso, e sim, uma espécie de satisfação, pois pela primeira vez quem estaria no comando de tudo seria o ‘id’.
Eu poderia rir da pobreza, da miséria e aplaudir os corruptos e os desviantes. Que peso tiraria da consciência! Aliás, pra quê consciência? Ela não seria mais necessária. Reformularia então a teoria psicanalítica de Freud, ajustando-a ao meu bel prazer, transformando-lhe numa corrente puramente subjetiva e simplificada. Note como seria bom não ter ‘superego’! Eu poderia mergulhar sem roupas na lagoa e quando o guarda tentasse me punir dando voz de prisão por atentado violento ao pudor, eu diria: “Não tenho ‘superego’ senhor, não podeis me prender!”.

Um corpo engessado durante anos pode esconder no comportamento sádico o personagem carrasco do seu destino, que nesse caso, será o algoz de si mesmo.

Compraria uma caminhonete a diesel; instalaria um ar condicionado em cada peça do meu apartamento; teria uma empregada para cada dia da semana; conquistaria toda e qualquer mulher que passasse a minha frente; agiria sem pensar; casaria num dia e no outro pediria o divórcio.
Assistiria telenovelas e memorizaria o nome de cada personagem; beberia e comeria até passar mal, colocando no lixo as sobras (mesmo sabendo que muitos sentem fome); cometeria todo dia um pecado e blasfemaria ao vigário da igreja; ainda em relação à fé, faltaria em todas as missas de domingo.
Apostaria em corridas de cavalos; fumaria dez maços de cigarro por semana; usaria somente roupas de grife; locomover-me-ia apenas com carros importados; maltrataria plantas e animais; pois tudo tende a ser liberado quando damos vazão aos conteúdos reprimidos.

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