Do princípio:
a) Para haver igualdade não pode existir Deus.
O sistema já começa desigual; existe um ser superior que manda e seres inferiores que obedecem. Nesse modelo não há equilíbrio, portanto não haverá igualdade.
Se juntássemos todo o dinheiro que existe no mundo e dividíssemos igualmente a todas as pessoas que vivem no planeta Terra, todos passariam, economicamente falando, a classe A.
Então a questão chave sobre a desigualdade social, deve ser vista sobre outro prisma, o aspecto da distribuição de renda.
Ex.:
O filho de uma empregada doméstica está em desigualdade em relação ao filho de um médico. Um estuda numa escola pública de péssima qualidade, o outro nas melhores escolas particulares; um depende de postinho de saúde, enquanto o outro tem plano particular de assistência médica; um veste as roupas que ganha como “caridade” de pessoas mais abonadas, o outro escolhe a grife de sua preferência para se vestir; em dias quentes um usa ventilador, o outro condicionador de ar; um passeia a pé, o outro de carro 0 km ou importado; enquanto um faz cursinho de inglês, o outro cata latinhas para ajudar no sustento da família, etc.; Agora lhes pergunto: existe igualdade sob este aspecto da realidade social?
b) As conseqüências da desigualdade social.
Respeitando as diferenças étnicas, morais, biológicas e psíquicas, entre outras, proponho pensar a lógica capitalista e sua dualidade.
O capital gera tecnologia, que gera consumo. Isso é bom! Bom para a economia de um país, mas principalmente para quem detém o poder. Na outra ponta disso estão as conseqüências graves, vejamos um exemplo: no período do regime militar no Brasil (1964 – 1985), enquanto o Brasil avançava tecnologicamente e organizações civis cresciam espantosamente, o povo morria de fome, doenças, maus tratos, etc.
c) Hierarquia como função social.
Sempre uso esse exemplo nas salas de aula, de que não podemos comparar um gari a um neurocirurgião. A princípio, por uma questão ética e religiosa, surpresos os ouvintes se perguntam se estou louco, ou que estou no mínimo descriminando/rotulando as funções sociais destes indivíduos.
Respondo-lhes com a explicação que me é peculiar!
Supondo hipoteticamente que o gari não adquiriu condições subjetivas de intelectualidade suficientes para exercer a profissão de neurocirurgião, o que não justifica a disparidade de seus soldos, a pergunta que lhes faço é a seguinte:
Por que o bem mais precioso que nos seres humanos temos, que são nossos herdeiros genéticos, isto é, nossos filhos serão tratados de forma desigual pela sociedade e todas as outras instituições que formam o Estado?
Obvio. Sua condição financeira independe do grau de intelectualidade, pelo menos no sistema capitalista. Sendo mais cruel ou realista: o filho de um médico tem mais valor do que o filho de uma diarista.
Existe aqui um grande problema. Porque se um gari ganhar o mesmo que um neurocirurgião, isso pode levar a um desastre no que tange o pensamento mais comum “Ora, mas pra que estudar e ser um médico, se meu salário será o mesmo de um gari!”. Pelo princípio de direito, e assim o compreendo como conseqüência do jogo social, existe a real necessidade, para garantir a ordem, de que existam tais hierarquias, afinal responsabilidades maiores, exigem soldos maiores.
O grande erro é a variação que isso suscita, dou-lhes como exemplo um jogador de futebol que ganha dois milhões de euros por mês, enquanto um cientista que estuda a cura da AIDS recebe dez mil. E aqui nem citei os assalariados, que numa visão mais aristotélica, poderiam ser comparados, a escravos, ou seja, não existem. Grande ironia filosófica!
Para que compreendam de maneira mais adequada meus pensamentos, quero falar aqui sobre uma de minhas paixões: a construção civil.
Dentre muitos trabalhadores de uma obra, podemos citar: pedreiros, carpinteiros (profissão de meu pai), serventes, eletricistas, pintores, engenheiros e arquitetos. A função que cada um ocupa num todo forma a hierarquia na qual tanto falo. É evidente que, sem esse conjunto de profissionais não haveria casas e apartamentos pelas ruas de nossas cidades.
A hierarquia dá respaldo para haver a necessária respeitabilidade entre as partes, o que me chama bastante atenção é o soldo destes profissionais. Enquanto o arquiteto recebe por uma planta baixa, um valor “x” o pedreiro recebe um valor “y”. Sem dúvida nenhuma o arquiteto merece o salário que ganha, em contrapartida, é totalmente absurdo o que ganha um pedreiro.
O que Karl Marx nas suas observações sobre o sistema capitalista referia-se na oposição entre os donos do meio de produção versus proletariado; consiste em si, na pura realidade. Contudo, esse sistema capitalista é autopoiético, ou seja, ele se auto-regula, não podemos destruí-lo como o filosofo em suas teses defendia, nem há como acabar com as hierarquias (o que chamei aqui de funções sociais), o que é preciso, justamente, por parte de quem detém o capital é uma conscientização e humanização mais efetiva, verdadeira e honesta.
Ainda sobre este aspecto sito outro exemplo:
A respeito das hierarquias – já pensaste – o que seria de nós se não existissem os profissionais que recolhem o lixo produzido pelas sociedades? E mais, se todos nós resolvêssemos estudar para capacitarmo-nos a função de médicos? Resultaria num colapso. Eu disse colapso e não “Calypso”! Ok?
Em resumo, esse texto propõe a idéia de que devemos estudar para progredir e de que não há evolução sem trabalho.
“A REVOLUÇÃO DEVE SER FEITA COM INTELIGÊNCIA, NÃO COM ARMAS.”
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