David
dos Santos¹
Em ano eleitoral
percebe-se o uso exagerado de um verbo que contém uma espécie de fetiche
sedutor: prometer. Todos os candidatos se comprometem com o Povo, que por sua
vez, vota por afinidade com o candidato ou no Partido Político de sua preferência.
Ao assistir os programas dos candidatos à Prefeitura de Pelotas, podemos notar
no slogan de suas campanhas, o uso de algumas expressões, tais como, “mudança”,
“novo”, “diferente”, etc., com tantas denúncias de corrupção em nosso país,
essa fórmula mostra-se bastante coerente, ou melhor, psicologicamente
estratégica.
A política, de
certa maneira, é o reino da fantasia, onde ocorre uma inversão da realidade e a
manipulação de conceitos, que à primeira vista, nos parece familiar. Saúde,
educação e emprego são os mais utilizados. Observamos que, nesse mundo
fantasioso, criam-se personagens míticos, que irão resolver todos os nossos
problemas, como numa espécie de conto de fadas, as barreiras que separam o
concreto do abstrato simplesmente desaparecem, transformando a expectativa ou
sonho das pessoas em uma ilusão, que deveras, terá pouca ou nenhuma chance de ser
viabilizada.
A seguir, uma
micro-análise sobre o discurso dos principais candidatos à Prefeitura de
Pelotas:
Eduardo Leite
(PSDB), o candidato foi chefe de gabinete do Prefeito Fetter Júnior (PP),
posteriormente eleito vereador de Pelotas e tem apoio do mesmo para essa
eleição. Seguindo esse raciocínio simples, como pode o candidato ser a
“mudança” como afirma em seus programas, se conta com o apoio do atual governo?
Além disso, utiliza um jingle muito pobre (meu nome é Eduardo Leite, mas pode
me chamar de Eduardo), claro que a equipe de marketing percebeu a mancada e
tentou remendá-la criando uma nova versão, associando o nome de pessoas que
apóiam o candidato a adjetivos que as qualificam como honestas e dignas;
melhorou, mas ainda assim mostra uma falta de criatividade, pelo menos, nesse
aspecto. Possui boa aceitação do eleitorado feminino, mas não sabemos dizer se
esse ‘casamento’ irá durar até a noite de ‘núpcias’.
Catarina
Paladini (PSB) segundo candidato, sim candidato, que nessa análise se destaca
pelo uso prolixo do verbo prometer. Assim como Eduardo Leite usa a idéia de
“mudança” e utiliza como recurso de esperança a pouca idade que tem, como se
isso fosse garantia de caráter e ética. Nesse âmbito, sublinhamos uma
incoerência, quando o então deputado apoiou o governador do Estado do Rio
Grande do Sul, Tarso Genro (PT) votando contra o piso salarial dos professores.
O carisma do candidato é inferior ao do primeiro, isso se justifique talvez, por
sua personalidade ainda em formação. De todos os candidatos é o que menos
transmite confiança, pode até ser uma falsa impressão, mas de qualquer forma, o
eleitor deve manter-se atento para que seu voto seja consciente.
Fernando Marroni
(PT) que já governou a cidade de Pelotas é o terceiro candidato avaliado (a
ordem decrescente estipulada aqui está associada à utilização do verbo prometer;
mencionado anteriormente). Usou recursos do Programa Monumenta do Ministério da
Cultura para restaurar o patrimônio arquitetônico de Pelotas, ainda naquele
mandato podemos destacar, comparado ao atual governo, ruas mais limpas e
iluminadas. Outro aspecto que notamos é que pelo menos esse candidato tem boa
educação e costuma cumprimentar as pessoas, independente de suas ideologias
políticas, diferentemente do atual Prefeito, que após assumir o cargo, parece
ter contraído uma espécie de repulsa pelo povo em geral. Contudo, porém, o
Partido dos Trabalhadores mostra-se bastante desgastado com a crise ética que
vem ocorrendo no âmbito federal, desde o governo Lula, além de ter mudado sua
posição ideológica para uma pseudo-esquerda.
Matteo Chiarelli
(DEM) é o quarto candidato em destaque. Professor universitário de direito
constitucional, advogado, mostra-se um homem convicto de sua posição ideológica.
Em 2004 foi candidato a vice-prefeito de Pelotas na chapa de Gilberto Cunha
(PSDB) e, em 2008 apoiou Fetter Júnior (PP) no segundo turno das eleições. Em
sua propaganda política, afirma seu compromisso em asfaltar as ruas das vilas
da nossa cidade (dessa vez então não será as ruas onde passam os carros dos
ricos?), esquece ou talvez desconheça que no Brasil existem 34,5 milhões de
pessoas sem esgoto em áreas urbanas. Muito provavelmente, esta proposta
remeta-nos a própria mudança de nome do até então PFL para o atual DEM, de modo
que isso se justifica: sendo o candidato oriundo de um curso secularmente freqüentado
pelas elites da nossa região; demonstra a estrutura do pensamento das mesmas.
Jurandir Silva
(PSOL) é o último candidato de nossa análise. Agrônomo, formado pela
Universidade Federal de Pelotas, adota uma postura ideológica e ética coerente
com seu comportamento. O partido ao qual é afiliado não fez coligações, por
isso, o tempo de dois minutos no horário eleitoral. De todos os atuais
candidatos é o que menos fez promessas, talvez por ingenuidade, ou quem sabe por
compreender que aqueles que muito falam, pouco fizeram por nossa cidade. Permanece
ainda uma visão deturpada, de que seu partido seja composto por pessoas
radicais, o que de certo modo, influencia a confiança na hora do voto por parte
do eleitorado. Talvez se possa dizer, que a verdadeira ideologia de esquerda no
Brasil, que um dia fora privilégio do Partido dos Trabalhadores, seja mais bem exemplificada
hoje pelos integrantes do Partido Socialismo e Liberdade.
Ao final desse
artigo, para a reflexão crítica dos eleitores e eleitoras, selecionamos o
recorte de um texto do antropólogo italiano Eugênio Barba: “(...) num mundo onde os homens que nos rodeiam não acreditam mais em
nada ou fingem acreditar para ficarem tranqüilos, aquele que esmiúça dentro
dele mesmo para se colocar questões sobre sua condição, sobre sua falta de
ideais, sobre sua necessidade de vida espiritual, é tomado por um fanático ou
por um ingênuo. Num mundo onde trapacear é a norma em vigor, aquele que procura
a sua verdade é tomado por hipócrita.”.
¹Atualmente é aluno
bolsista do curso de graduação em Psicologia pela Universidade Católica de
Pelotas. Pesquisa temas sobre filosofia, religião, política, sociologia,
antropologia e direito.